sábado, 9 de maio de 2009

Heliosfera


Claridade, Helios veio, Selenia previu. Não se anunciou nem se apresentou, só me impôs sua presença cálida. Ele loiro, enlanguescido e alarmante. Eu ainda turvo e fosco, resquícios selênicos. Não tinha conseguido ainda me libertar da noite anterior. Pessoas ao acaso surgiram formando uma corrente contínua, alternando-se pelas artérias do reino. Eu imóvel, invisível, pondo minha vírgula em tudo. Incomodado com aquela marcha matutina frenética: pés, pernas, braços, pescoços, bocas, cabeças, pensamentos. Odores tácteis, barulhos aleatórios que compunham uma verve musical de tonalidades e cores neoplás(t)icas. Helios me presenteara com esse espetáculo através de sua facúndia muda, eu era todo sentidos. Paro, respiro e armazeno o segundo anterior. Anulo-me na paisagem: não sou mais nada. Já não o era mesmo antes, quando poucos não me percebiam. Agora, dissolvido naquele plural, significava existir-me menos ainda. Sou uma inexistência incômoda, sofrendo de uma dormência dolorosa. Um fractal suspenso no éter. E Helios irônico me empurrando tudo aquilo goela abaixo, esfregando no meu rosto, Toma que isso é teu, e eu peristáltico, quase regurgitando por não me caber mais. Não é nada disso meu, eu não inventei isso, Inventou sim e é assim grande parte por ti e para ti, Eu não vim para isso, eu vim para os desolados, cadê eles, E quem disse que não o são, sai dessa surpresa torpe e esmiuça essas almas esquartejadas, esses desertos sem horizontes, em cada um deles há um pedaço de terra desolada, mas também baús com tesouros e segredos sem limites, o reino do teu pai é mais abrangente do que imaginas. Estava tudo embaralhado ou eu me mesclara àquilo sobremaneira. Transigi em destacar o óbvio do essencial. Mirei atrás e o reino pelo qual eu vim se desvelou concomitante, deveras inserido nesse outro que acabara de ser mostrado a mim. Conviviam sem interferências mútuas, apenas com um lapso de tempo. Estaria a terra desolada atrasada, estaria a esfera de Helios na vangurada, quem o ou o quê havia perdido o referencial, seguiam aquelas pessoas indiferentes à minha análise temporal. Os desolados se permitiam ser deixados para trás, e Helios trazia sempre um novo amanhecer aos que não se deixavam abandonar nos braços da deusa. O feroz Cérbero grunhia sedento, cão bravo, e a deusa o acariciava; enquanto as almas abandonadas no si-mesmo, perdidas nos labirintos sombrios do inconsciente e autodolentes vagavam à deriva. Embora Helios ali onipresente e solícito, nada interessava a eles. A deusa os supria com a luz que os cegava e os aquecia com o inferno. Helios parecia não nascer para todos...
a continuación....

4 comentários:

Anônimo disse...

Agora, vamos alcançar tudo que não podemos amar na vida.Ressuscita-me não mais porque sou poeta e ansiava o futuro, lutando contra as misérias do cotidiano. Quero acabar de viver o que me cabe: minha vida. Para que não mais existam amores servis e ninguém mais tenha que se sacrificar por uma casa, um buraco, um vício... Ressuscita-me para que a partir de hoje, a família se transforme. E o pai seja pelo menos o Universo. E a mãe seja no mínimo a Terra.
Maiakovski

vladimir disse...

Titulo da Música: Coco Dub (afrociberdelia)
Artista: Chico Science

Letra:

Cascos, cascos, cascos
Multicoloridos, cérebros, multicoloridos
Sintonizam, emitem, longe
Cascos, cascos, cascos
Multicoloridos, homens, multicoloridos
Andam, sentem, amam
Acima, embaixo de tudo
Cascos, caos, cascos, caos
Imprevisibilidade de comportamento
O leito não-linear segue
Pra dentro do universo
Música quantica?

Claudia disse...

citizen,preciso me reciclar em portugues...........muito bom o texto.

Claudia disse...

Element,Keep the faith.