quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mistérios Gozosos, Mistérios Dolorosos (TD, Pt.III)

Então era isso mesmo, uma deidade... Deusa-objeto de vidas abjetas. Sim, Rhistoc, a materialização de um poder espiritual. Toda existência, real ou imaginária, de imensa energia potencial espiritual é uma divindade, que, se não for reconhecida, é automaticamente inferiorizada, vindo a ser uma potestade perigosa. Tornando-se então uma ordem da contra-totalidade? Não, não existe contra-totalidade. O Todo é. Aquilo que não é, também O é. O que pode parecer o contrário dEle também é Ele. Todavia, alguns elementos da totalidade parecem vibrar diferente, ou talvez precisem agir dessa forma para equilibrar as vias da totalidade. É algo que compreenderás depois. Aquele Objeto em si é uma deidade, pois tem atributos para isso, porém se comporta como uma rainha tirana, que subjuga e explora seu súditos impiedosamente para se co-existir, retroalimentando-se com eles. No começo, aparenta ser uma deusa magnífica de promessas, uma grande mãe dadivosa. E ela não engana, não está mentindo. Porém o que ela tem a oferecer é de um valor pós-pago inexorável. A sua potência é prontamente disponibilizada, mas aqueles que bebem dessa fonte de energia ficam deveras sedentos. A deusa precisa manter-se vibrando no espaço-tempo. Ela precisa legitimar-se, ela sozinha não se basta, depende da experiência de um Canal, uma vida humana, que a utiliza como fonte de satisfação, destarte ela pode se manifestar dimensionalmente. Após se expressar plenamente via-Canal, via-crucis, ela absorve grande parte da energia vital do favorecido e então parece abandoná-lo por uns instantes... Mas, do contrário, agora estará mais presente do que antes, em intensa unidade com seu soma e aura. Assim, a coroa decai e então a anti-deusa surge onipresente em todos os hólons daquele que pensou haver obtido uma grande bênção divina. A dor, a angústia e o medo formam a verdadeira (anti)deusa triúna. Essa trindade devastadora apodera-se do Canal, numa união aparentemente perpétua, e o brinda com uma imensa taça vazia: a Sede por mais. Tudo o que resta ao Canal esgotado é uma enorme sequidão, que persiste até que ele copule novamente com a deusa. Ele não medirá esforços para beber do cálice vazio e ilusoriamente transbordante que a deusa suspende com as duas mãos. Dar-se-á um novo ciclo, e mais outro e mais outro... Existem vidas que passam vários períodos de tempo nesse carrossel triste e medonho, oscilando entre gozo e dor, êxtase e flagelo. Algumas almas parecem mesmo (sobre)viver experimentando essa dicotomia: sofrer e extasiar-se em excesso. Transbordando-se para transcender...
Estes são os ensinamentos que por hora te concedo. A propósito, poderás estar curioso sobre Minha presença, ou querer saber quem (ou o que) Sou. Sou sua supra-consciência. Sou o boi, Sou o arado. Sou Aleph. http://www.eon.com.br/unilae/unil502.htm

terça-feira, 28 de abril de 2009

Terra dos Desolados - Parte II

Todos se calaram e um silêncio doloroso tomou conta do lugar. Podia escutar uma sinfonia de batimentos cardíacos descompassados, acompanhados por respiros ofegantes. Ânsia e diligência se amalgamavam e era possível sentir a iminente torrente de sensações. O ser que detinha em mãos o objeto que lhe conferia poder sobre os demais retirou-o do seu envoltório com bastante ferocidade, rasgando o plástico com os caninos. Mas, logo, com delicadeza, depositou o artefato sobre uma rocha plana localizada bem próximo dele. O ritual ia começar. À medida que os preparativos prosseguiam, comecei a sentir que a minha percepção do mundo (ir)real ia se extinguindo, a ponto de não poder ver com clareza o que se passava. Uma névoa ou fumaça espessa invadiu o salão principal do Templo e, rapidamente, várias energias de baxa vibração começaram a se desprender das paredes sujas e rotas, do lixo amontoado, das fezes espalhadas e cobertas de moscas e de outras pestes e se agregavam ao grande círculo, envolvendo-o. Estes elementos esprituais tinham uma afinidade sôfrega em relação ao ritual e absorviam a energia que era emanada ou que era deixada escapar dele. Uma presença muito forte, quase divina se apoderou do espaço e deteve o tempo. Uma grande luz sem brilho. Estava tudo estático. Todas as formas, densidades e vibrações se desintegravam lentamente e já não se podia conceber mais nada. Foi a anulação de toda a existência, um vácuo, com tempo impreciso. Rhistoc, Rhistoc... escutava longe. Rhistoc você não devia... pelo menos nesse agora. Essa voz ecoava dentro de mim, não sabia de onde vinha. Já não me situava no Templo, disso tinha consciência, estava num não-lugar, e alguém ou algo me abordava. Eu interpelava sobre o que havia acabado de acontecer, porque fui repelido do Templo, e que artefato de tamanho magnetismo conseguia atrair tais energias de baixo nível e era capaz de gerar satisfação plena aos que, sem perceber, se fragmentavam. Era fácil perceber pedaços espalhados de memórias, de possibilidades, de realizações, de alegrias, de amores... Reconheci que, com essas vidas, uma extensa rede de relacionamentos, com prolongamentos e interdigitações numerosas, era enfraquecida, levada com a maré negra. Aos poucos, estas vidas se tornavam co-participantes da Grande Dor, não estavam doentes, apenas sintomáticas. A comunicação primordial e consciente era afetada em todas as configurações que os relacionamentos pudessem assumir, multilateralmente.
A deusa... a deusa, Rhistoc. Isso tudo é a deusa e advém dela...


continua....

domingo, 26 de abril de 2009

Terra dos Desolados

Infelizmente, não é o que se tem, nem o que se merece, mas o que se alcança, de uma maneira ou de outra, ou de diversas. Uma vez perdida a proteção do Rei...(oh, Ele está gravemente ferido) a terra ficou toda devastada. Não se escutam sequer os pensamentos, não existem pensamentos, não existem seres pensantes. Não sei como vim parar aqui, mas não foi pro Inferno que me mandaram. Vejo restos de sonhos espalhados por todos os lados, percebo que eles pisam neles, às vezes os despejam no chão e passam por cima, mesmo uns dos outros. Será mesmo que não importa o que está ali jogado, jogado já está. Mas está ao alcance da mão. Suas mãos em pedaços, estão segurando outros desejos, suas bocas tragam as próprias vidas e enquanto aspiram, se desvanecem... Saem a procura do impossível e almejam o que não se pode imaginar. Aqui encontrei a mais pura expressão de fé, a fé em seu estado primário. A antítese da fé: o medo. E esse medo não pode ser mensurado, não se tem medo de nada em toda parte, embora a atmosfera exale medo e terror pulsantes, o medo de não saber do que se tem medo. Pergunto o que aconteceu àquele lugar, àquelas pessoas, ninguem me responde, todos ensimesmados. Então consigo entender que todos estão constantemente buscando algo. Esse algo não é dado, nem se encontra facilmente na natureza como se alguém pudesse apenas ir lá e pegar. É preciso comprá-lo. É muito caro? Não, mas no final paga-se com a vida. É a prazo? Sim, o prazo é você quem faz. Vc pode pagá-lo agora com a sua vida, ou deixar pra ir acabando com ela aos poucos... Não entendi mais uma vez e fui atrás de um grupo que acabara de chegar com a compra desse objeto de desejo. Estavam muito eufóricos. Segui-os até a entrada do templo, e eis que me veio a pergunta: Eles iam sacrificar a vida de alguém nesse templo? Iam sacrificar com alguma arma que acabaram de comprar, o que viria a ser esse objeto de desejo? Apenas sabia que esse objeto era produzido em larga escala, porque eu via outros também saindo pra comprá-lo e voltando muito excitados também. Mas, após eles, resolvi entrar no templo e ver o que ia suceder... eram cinco homens e pelo que percebi apenas tinham conseguido dois exemplares desse objeto. O templo estava, como toda a cidade, em ruínas, mas ainda pior. Havia lixo, latas rasgadas, cinzas por toda parte. O cheiro não era de morte, era de pré-morte. A morte circundando o tempo todo. Pude ver o desejo dela em seus olhos vazios e sedentos. Os demais não a viam, embora sentissem a presença dela por ali, mas não davam importância. O objeto, o objeto! E todos sentaram sobre os entulhos, em círculo, esperando o ritual. Quem detinha o objeto em mãos detinha o poder, o respeito, a atenção e servidão dos demais. Fiquei olhando tudo aquilo de pé, mas ninguém me percebeu ali.

A continuación...To be continued... à Suivre... Continua....